Pois mesmo em meio á penumbra eles brilhavam, semicerrados de maneira sedutora, deixando apenas se notar discretamente o azul-escuro profundo, enigmático, irresistível.
E lá estavam também a boca estreita e delineada, os cabelos negros e encaracolados que desciam sobre a pele corada de seu rosto macio.
E era só o que ele via de onde estava, pois o resto do corpo estava do outro lado da guilhotina.
Lá de cima a lâmina lhe fitava, impassível, zombando da torrente de sentimentos que se apoderava dele agora, a lâmina coberta com o sangue de sua amada, a lâmina fria que lhe separara de Arséne para sempre.
Ele se moveu, tentando ser mais forte que o aperto em sua garganta, que o desespero que viera de maneira tão súbita que ele mal podia compreendê-lo, apenas se movia, em um frenesi lento, amortecido pelo torpor e pela confusão. Ergueu a cabeça e viu o corpo curvilíneo dela, ainda no vestido verde da última noite, mas corpo e vestido estavam salpicados de sangue.
Só que havia algo mais errado, algo que o impedia de se mover mais que o que conseguia agora, algo que não estava presente naquela cena quando vira sua querida Arséne ser executada de maneira cruel. Havia uma longa espada cravada em seu próprio corpo, fincada em seu coração. E ele não entendia como não sentia a dor, ou como estava vivo. Talvez não estivesse.
E se estivesse, a dor que agora vinha crescente não era nada perto da agonia que o inundava, não iria fazer diferença.
A espada atravessada em seu corpo era uma zweihander, uma arma da sua terra natal. Ele não sabia por que se lembrava disso, parando de olhar para Arséne, voltando a olhar imediatamente, era só o que podia fazer, a espada estava lhe prendendo á parede, ou ao chão, não importava.
Algo escorregou em seu pescoço, um medalhão dourado. Havia algo nele que lhe trazia mais terror do que a visão de sua amante francesa morta. Ele não lembrava o que era. A jóia escorregou lentamente por seu peito, caiu á frente dele e se abriu.
Hoffmann despertou, e não conseguiu mais dormir.
E lá estavam também a boca estreita e delineada, os cabelos negros e encaracolados que desciam sobre a pele corada de seu rosto macio.
E era só o que ele via de onde estava, pois o resto do corpo estava do outro lado da guilhotina.
Lá de cima a lâmina lhe fitava, impassível, zombando da torrente de sentimentos que se apoderava dele agora, a lâmina coberta com o sangue de sua amada, a lâmina fria que lhe separara de Arséne para sempre.
Ele se moveu, tentando ser mais forte que o aperto em sua garganta, que o desespero que viera de maneira tão súbita que ele mal podia compreendê-lo, apenas se movia, em um frenesi lento, amortecido pelo torpor e pela confusão. Ergueu a cabeça e viu o corpo curvilíneo dela, ainda no vestido verde da última noite, mas corpo e vestido estavam salpicados de sangue.
Só que havia algo mais errado, algo que o impedia de se mover mais que o que conseguia agora, algo que não estava presente naquela cena quando vira sua querida Arséne ser executada de maneira cruel. Havia uma longa espada cravada em seu próprio corpo, fincada em seu coração. E ele não entendia como não sentia a dor, ou como estava vivo. Talvez não estivesse.
E se estivesse, a dor que agora vinha crescente não era nada perto da agonia que o inundava, não iria fazer diferença.
A espada atravessada em seu corpo era uma zweihander, uma arma da sua terra natal. Ele não sabia por que se lembrava disso, parando de olhar para Arséne, voltando a olhar imediatamente, era só o que podia fazer, a espada estava lhe prendendo á parede, ou ao chão, não importava.
Algo escorregou em seu pescoço, um medalhão dourado. Havia algo nele que lhe trazia mais terror do que a visão de sua amante francesa morta. Ele não lembrava o que era. A jóia escorregou lentamente por seu peito, caiu á frente dele e se abriu.
Hoffmann despertou, e não conseguiu mais dormir.
Baseado no romance O Colar de Veludo, de Alexandre Dumas